Processo natural que ocorre cerca de 30 horas após a fecundação quando o zigoto atravessa a tuba uterina em direção ao útero. São repetidas divisões mitóticas do zigoto, que ocorrem com autoduplicação de DNA entre uma e outra, resultando em um rápido aumento no número de células. A localização dos centríolos em cada célula determinaria a posição do fuso mitótico, e com ele a progressão dos microtúbulos encarregados de marcar a orientação dos planos de clivagem no espaço. A zona cortical do zigoto possui um citoesqueleto com microfilamentos abundantes de actina, formando complexos com a miosina. A capacidade contrátil que estas estruturas conferem ao córtex vincula-se ao início da citocinese, para obter a formação do primeiro sulco de segmentação e, provavelmente, também, para as sucessivas clivagens (Fig.1 – A). Existem evidências experimentais que nos fazem supor que as membranas plasmáticas divisórias formadas entre os blastômeros surgem por diferentes mecanismos, tais como isolamento de irregularidades na superfície do ovócito, fusão de vesículas citoplasmáticas com a membrana plasmática e neogênese de membranas que responde a outros mecanismos. As células embrionárias resultantes dessa divisão são chamadas de blastômeros, que tornam-se menores a cada divisão, pois não há efetivamente síntese de componentes citoplasmáticos entre uma divisão e outra, de maneira que a massa citoplasmática original se divida proporcionalmente entre as novas células-filhas (Fig.1 – B, C, D e E, e Fig.2). Os blastômeros são, a princípio, totipotentes. Depois, quando é fixado o destino de uma célula, diz-se que a mesma está determinada. Ao contrário, a diferenciação refere-se ao processo de especialização fenotípica de uma célula. As células embrionárias do mesmo tipo aderem-se entre si, segundo bases moleculares de agregação celular, regidas por moléculas de adesão (CAMs) presentes em sua superfície, que podem ou não ser dependentes de cálcio. Durante toda a clivagem, o zigoto se encontra envolto pela zona pelúcida, permitindo o aumento no número de células, sem aumentar o tamanho total do zigoto.
Após o estágio de nove células, os blastômeros mudam sua forma e se agrupam firmemente uns com os outros para formar uma massa compacta de células em um fenômeno chamado de compactação, que provavelmente é mediado por glicoproteínas de adesão de superfície celular. A compactação inclui também o desenvolvimento de especializações de membranas, que contribuem para a coesão e comunicação entre as células. Entre os blastômeros periféricos existem zonas de oclusão e desmossomas, enquanto mais profundamente aparecem nexos de comunicação intercelular (junções comunicantes ou do tipo “gap”). As junções de oclusão (tight junctions) separam o meio externo, que circunda o embrião, do meio interno, cujas características dependem unicamente das células embrionárias. Evita-se assim a difusão livre de substâncias no nível do compartimento intercelular. Isto é fundamental para que se desenvolvam diferenças na potencialidade evolutiva dos blastômeros. Essa compactação possibilita uma maior interação célula-célula e é um pré-requisito para a segregação das células internas que formam a massa celular interna ou embrioblasto no estágio de blastocisto (Fig.3 – B e C). Quando o zigoto alcança 12 a 32 blastômeros, passa a ser denominado de Mórula (aspecto de amora), quando, então, alcança o útero (Fig.1 – E e Fig.3 – A).
Assim que a mórula alcança a cavidade uterina, a zona pelúcida entra em degeneração, fato este que permitirá a passagem de líquido da cavidade uterina, formando um espaço cheio de fluido entre os blastômeros. Este espaço será denominado de cavidade blastocística ou blastocele (Fig.3- B). A degeneração da zona pelúcida também permite ao blastocisto aumentar rapidamente de tamanho. Conforme a cavidade blastocística aumenta, os blastômeros se separam em duas partes:
- Trofobasto: camada delgada de células externas que irá compor a parte embrionária da placenta.
- Embrioblasto: grupo de blastômeros localizados centralmente, também chamado de massa celular interna, que dará origem ao embrião.
Nesse estágio do desenvolvimento conhecido como blastogênese, o concepto é conhecido como blastocisto, e é este blastocisto que vai aderir ao epitélio endometrial por ações de enzimas proteolíticas (metaloproteinases) (Fig 3 – C).